sexta-feira, 7 de março de 2014

mente pra mim só mais um pouquinho

diz
que 
é
diz 
vai

diz
piscando
cruzando dedo
colocando a língua pra fora
mas
diz 
sim

diz
ainda
é 
carnaval
porra

domingo, 14 de abril de 2013

Meus velhos por Caetano


A carne
a arte 
arde, 
a tarde cai
no abismo 
das esquinas


A brisa leve traz 
o olor fulgaz
do sexo 
das meninas

meus velhos

da pele macia
da mão que aninha
dos banhos de bacia
infância  cia

daqueles elos
meus velhos
daqueles elos

dos passos na areia de Arraial do Cabo
do "não sinta medo,
estou do seu lado"
estou aos berros mas
sofro mesmo calado

daqueles elos
meus velhos
daqueles elos

do berimbau
que já sei que não é gaita
do mau,
da vaia,
que nada!
é tão tarde
amanhã
já vem!

daqueles elos
meus velhos
daqueles elos

de como tremem
e temem
a mesmice
de como temo
e remo contra
a velhice
dos meus ídolos.







segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Tatuagem 2

Memória (Carlos Drummond de Andrade)
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

domingo, 23 de dezembro de 2012

antes de acabar

dezembro, fim do mundo, natal e toda essa baboseira aprisionadora de tempo, me faz desejar um fim.
só para poder recomeçar.

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já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

leminski

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

e talvez a nossa vida não tenha mais fim


Eu sei que eu não faço nada
Mas eu gosto, gosto muito de você, de você, de você...
de vocêeee

sábado, 8 de setembro de 2012

bukowski 3


a noite será devagar

bem, aqui estou eu
de novo
ouvindo as boas e velhas
músicas
de novo,
sentindo tristeza,
a boa
tristeza
à moda antiga
em que as lágrimas
não chegam
a sair.
bom.
ouço mais um pouco.

a mente pode
consumir quantidades
mágicas de
memória
enquanto a noite se
desdobra
noite adentro,
enquanto outro charuto
é acesso,
como se pode ficar
terrivelmente amuado
quando velhas
músicas seguem-se
uma às
outras,
rostos são
lembradas,
rostos jovens,
como fatias novas de uma
maçã,
estão mortos
agora,
quase todos
eles
mortos
agora.

a aparente
beleza e
a aparente bravura,
se foram.

sentado aqui
permitindo que meus
melhores sentidos
sejam diluídos pela
melancolia,
um homem
velho,
lembrando
de novo,
olhando de cima
a baixo o bar imaginário
cheio de assentos
vazios,
pensando naquela
criança com os loucos
olhos
vermelhos
que sentava lá
enchendo o copo e
enchendo e enchendo e
enchendo
de novo
ao ponto da
imbecilidade,
agora lembrando,
ouvindo
de novo,
permitindo a idiotice
entrar
de novo,
somos todos
idiotas para sempre
idiotizados
para sempre.
alegremente.
agora.