sábado, 8 de setembro de 2012

bukowski 3


a noite será devagar

bem, aqui estou eu
de novo
ouvindo as boas e velhas
músicas
de novo,
sentindo tristeza,
a boa
tristeza
à moda antiga
em que as lágrimas
não chegam
a sair.
bom.
ouço mais um pouco.

a mente pode
consumir quantidades
mágicas de
memória
enquanto a noite se
desdobra
noite adentro,
enquanto outro charuto
é acesso,
como se pode ficar
terrivelmente amuado
quando velhas
músicas seguem-se
uma às
outras,
rostos são
lembradas,
rostos jovens,
como fatias novas de uma
maçã,
estão mortos
agora,
quase todos
eles
mortos
agora.

a aparente
beleza e
a aparente bravura,
se foram.

sentado aqui
permitindo que meus
melhores sentidos
sejam diluídos pela
melancolia,
um homem
velho,
lembrando
de novo,
olhando de cima
a baixo o bar imaginário
cheio de assentos
vazios,
pensando naquela
criança com os loucos
olhos
vermelhos
que sentava lá
enchendo o copo e
enchendo e enchendo e
enchendo
de novo
ao ponto da
imbecilidade,
agora lembrando,
ouvindo
de novo,
permitindo a idiotice
entrar
de novo,
somos todos
idiotas para sempre
idiotizados
para sempre.
alegremente.
agora.

Bukowski (2)


agora, se você tivesse que ensinar escrita criativa, ele perguntou, o que você lhes diria?

eu lhes diria para ter um caso de amor
fracassado, hemorróidas, dentes podres
e beber vinho barato,
para evitarem a ópera e o golfe e o xadrez,
seguirem trocando a guarda de suas
camas de parede em parede
e depois eu lhes diria para terem
outro caso de amor fracassado
e nunca usar uma fita de seda na máquina
de escrever,
evitar os piqueniques em família
ou serem fotografados em um jardim coberto de
rosas;
para lerem Hemingway apenas uma vez,
pularem Faulkner
ignorarem Gogol
olharem fixo para as fotos de Gertrude Stein
e ler Sherwood Anderson na cama
comendo biscoitos Ritz água e sal,
perceberem que as pessoas que não param
de falar sobre liberação sexual
na verdade estão mais assustadas do que vocês.
para ouvirem E. Power Biggs debulhar o
orgão no rádio enquanto estão
fumando um Bull Durham no escuro
numa cidade estranha
restando apenas um dia pago de aluguel
após terem desistido de tudo
amigos, parentes e empregos.
jamais se considerem superiores e/
ou dentro da média
nem nunca tentem sê-lo.
tenham um outro caso de amor fracassado.
observem uma mosca sobre uma cortina de verão.
jamais tentem ter sucesso.
não joguem sinuca.
deixem que uma fúria legítima tome conta de vocês
quando seus carros estiverem com pneu no chão.
tomem vitaminas mas não levantem pesos nem corram.

então depois disso tudo
revertam o processo.
tenham um bom caso de amor.
e a coisa
que talvez aprendam
é que ninguém sabe nada -
nem o Estado, nem os ratos
nem a mangueira no jardim nem a Estrela Polar.
e se por acaso vocês me pegarem
ensinando numa classe de escrita criativa
e me lerem este poema
eu lhe darei um A com louvor
bem no olho
do cu.

Bukowski 1

Chopin Bukowski este é meu piano. o telefone toca e as pessoas perguntam, o que você está fazendo? que tal encher a cara com a gente? e eu digo, estou ao piano. o quê? desligo. as pessoas precisam de mim. eu as completo. se não podem me ver por um tempo ficam desesperadas, ficam doentes. mas se as vejo me seguindo eu fico doente. é difícil alimentar sem ser alimentado. meu piano me diz coisas em troca. às vezes as coisas estão confusas e nada boas. outras vezes consigo ser tão bom e sortudo como Chopin. às vezes me sinto enferrujado desafinado. isso faz parte. posso me sentar e vomitar sobre as teclas mas é meu vômito. é melhor do que sentar em uma sala com 3 ou 4 pessoas e seus pianos. este é meu piano e é melhor que os deles. e eles gostam e desgostam dele.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

clima do momento