O MACAQUINHO E A SENHORA
Um dia uma senhora
De rico parecer
Entrou num velho parque
A fim de espairecer
Olhou todas as flores
Era na Primavera
E pensou nos amores
Pois linda e moça ela era
Eis quando numa gaiola
Depara subitamente
Com feio e pelado bicho
O pobre Macaco Clemente
Vendo-a o filho de Deus
Sorri e se coça todo
Pula gira rodopia
Enfia a cabeça no lodo
Depois trepa, guincha, grita
E pinta o sete e o caneco
Ri-se, assovia, namora
E põe tudo em cacareco
A rica senhora sorri
Pra tal manifestação
Mas ao amor do macaco
Gelado é o seu coração
Desolado, cabisbaixo
Reflete o pobre Clemente
- Assim é a lei inflexível
Do meu destino inclemente!
Meses depois, a senhora
Das sedas e dos brilhantes
Regressa a jardim perdido
Mas não volta como dantes
Na cidade em que vivia
Rebentou a revolução
E o seu querido partiu
À frente de um batalhão
Uma manhã ela viu
O belo amante enforcado
Só a graça e a riqueza
Lhe restou do ano passado
Ávida, ei-la que procura
O triste do macaquinho
Pra ver se ele inda se lembra
Como ficou perdidinho
Mas o Clemente não liga
Às jóias, à seda, ao porte
Da grande e linda senhora.
É assim que muda a sorte!
Põe-se numa gostosa fruta
Preocupado a descascar
Enquanto ela dolorida
Procura o interessar
Moral
Inútil, minha senhora,
Seu macaquinho perdeu
Não troca ele uma banana
Por perfil de camafeu
Tarsila, bela Tarsila
Não vá entornar o caldo
Não perca tempo não perca
Case-se logo com o Oswaldo.
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